Ministério Público pode pedir prisão preventiva de PM que fez disparos que mataram jovem em avenida em Ribeirão Preto, SP
Investigações também buscam por câmeras de segurança anteriores à discussão entre suspeito e ocupantes de moto para confrontar com depoimentos já colhidos.
O promotor Marcus Túlio Nicolino, uma das autoridades designadas pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar os desdobramentos da morte da gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, vítima de uma bala perdida em Ribeirão Preto (SP), informou que pode pedir a prisão preventiva do policial militar Maicon de Oliveira Santos, de 35 anos.
É dele a arma de onde partiu o disparo que atingiu Julia na região do peito. O agente foi preso em flagrante na segunda-feira (14), mas acabou obtendo a liberdade provisória da Justiça na terça-feira (15), após passar por audiência de custódia.
“Não descartamos pedir a prisão preventiva do indiciado, estamos tomando contato com as provas agora. Tive contato hoje [na quarta-feira] com o auto de prisão em flagrante, novas diligências, com certeza, serão feitas, mas não descartamos que seja decretada a prisão preventiva. Pelo menos, o Ministério Público pode pedir”, diz Nicolino.
O benefício a Santos foi concedido mediante adoção das seguintes medidas cautelares:
apresentar-se em juízo mensalmente para prestar contas das atividades e comprovar endereço atual;
manter-se em casa nos dias de folga, podendo sair de casa apenas para trabalhar.
O caso aconteceu na madrugada de segunda-feira (14), quando Julia foi atingida por, pelo menos, um tiro ao atravessar o canteiro central da Avenida Independência, uma das principais vias da cidade, repleta de restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais.
À polícia, o suspeito disse ter agido em legítima defesa após ser abordado por Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, e Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18 anos, que estavam em uma moto e teriam tentado assaltá-lo. Os jovens também foram baleados, mas passam bem.
Eles negam a versão do policial. Mãe de Gustavo, a gestora de condomínios Lilian Scandiuzzi diz que, segundo o filho, o que aconteceu foi uma briga de trânsito.
Busca por imagens de câmera anteriores
Segundo Nicolino, o trabalho agora se concentra nas buscas por imagens de câmeras de segurança do cruzamento das avenidas Itatiaia e Independência.
Isso porque teria sido neste local que a discussão entre Gustavo, Arthur e o PM teria começado. As duas vias têm, em média, um quilômetro de distância.
“É interessante que essas imagens anteriores podem vir para o inquérito, porque vão mostrar se os motociclistas, que até agora são vítimas, realmente estão falando a verdade. Pelo que as imagens [disponíveis até o momento] mostram e os depoimentos revelam, não está evidenciada uma tentativa de assalto. E mesmo não estando evidenciada uma tentativa de assalto, houve um excesso, um despreparo, uma possibilidade de atingir outras pessoas, como foi o caso da Julia”.
Briga teria começado por conta de infração de trânsito
Ainda segundo Lilian, o filho dela revelou que a briga com o PM teria começado por conta de uma infração de trânsito cometida por Gustavo.
“Foi uma conversão errada que ele fez, não sei se foi semáforo fechado, e o policial não teria gostado. Ele não sabia, obviamente, que era um policial à paisana e eles começaram aquela discussão de trânsito que a gente não recomenda nunca pra ninguém”.
Lilian nega, inclusive, o fato de que o filho estaria armado, hipótese levantada pelo policial durante depoimento.
À EPTV, afiliada da TV Globo, o advogado de defesa de Santos, Gustavo Henrique de Lima e Santos afirma que, apesar de não ter a certeza se os jovens estariam armados, o PM acreditava que “houve um movimento”.
“Logo que a moto acelera, houve um movimento pelo garupa que indicava algo sendo retirado do bolso. Nesse momento, ele entendendo que poderia ser uma arma de fogo e os disparos poderiam ser efetuados na direção dele pra trás, ele efetuou os disparos para que eles evadissem, assim, evitando uma injusta agressão”.
Família de jovem morta pede justiça
Marido de Julia, o motorista de aplicativo Yuri Felipe Silvério afirma que as filhas do casal, de 7 e 6 anos, estão abaladas e a família pede por justiça.
A liberdade concedida ao PM revoltou Silvério, que afirma que vai cobrar por uma punição severa.
“Ele deixou duas filhas sem mãe, ele fez uma covardia, uma brutalidade, destruiu uma família. Se ele errou, tem que arcar com o erro. Ele disparou mais de oito vezes, tem que ser punido. Eu vou querer justiça, vou atrás, porque quero ele preso. Ele vai ter que pagar, não vai voltar a vida dela, mas ele vai ter que pagar”.
O caso
A morte de Julia ocorreu por volta das 3h de segunda-feira, quando ela havia acabado de deixar uma casa noturna localizada na Avenida Independência.
A vítima estava com uma outra pessoa e caminhava pelo canteiro central da via quando foi atingida. A EPTV teve acesso a câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local.
Nas imagens, é possível ver que, momentos antes de Julia ser baleada, Santos parece discutir com Gustavo e Arthur, que estavam em outra moto.
Em determinando momento, todos param e o PM saca uma arma e atira em direção à dupla, que foge.
Pelas imagens, é possível ver que, em meio a esses disparos, Julia, que estava metros adiante da origem dos disparos, cai no meio da avenida ao ser baleada.
Além da morte da jovem, o PM responde por duas tentativas de homicídio por conta dos tiros disparados em direção a Gustavo e Arthur.
Segundo a Polícia Civil, dez cápsulas deflagradas foram encontradas no local do crime e apreendidas. A arma do policial foi recolhida.
Para a delegada Vanessa Matos da Costa, responsável pelas investigações, houve excesso na conduta do policial militar responsável pelo tiro.