PCC financiou viagem à Europa de diretor de documentário da Netflix, aponta investigação
O cineasta Rodrigo Giannetto, diretor do documentário O Grito, que aborda o sistema carcerário brasileiro, realizou uma viagem para a Europa com passagens pagas por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Polícia Civil de São Paulo, o valor dos bilhetes foi de R$ 18.350 e a compra foi realizada por Kauê do Amaral Coelho, suspeito de envolvimento no assassinato do empresário e delator do PCC, Vinícius Gritzbach, ocorrido em 8 de novembro.
A informação foi inicialmente divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pelo portal Poder360. A viagem aconteceu entre 6 e 24 de outubro, levando o cineasta de São Paulo para Palermo (Itália) e Londres (Reino Unido).
Negativa de envolvimento
Em entrevista ao Estadão, Rodrigo Giannetto negou qualquer vínculo com o PCC e afirmou não conhecer Kauê do Amaral Coelho. Segundo o diretor, sua viagem teve como objetivo participar do Festival Internazionale Nebrodi Cinema, na Itália.
A Netflix, por sua vez, esclareceu ao Estadão que não produziu o documentário O Grito, apenas licenciou o conteúdo dos realizadores.
“A Netflix não teve nenhuma participação na produção do filme, tampouco em seu financiamento ou na participação em festivais.”
Documentário e suspeitas
O documentário O Grito, dirigido por Giannetto, critica o sistema penitenciário brasileiro e aborda as condições dos presos no país. A produção inclui entrevistas com familiares de membros do PCC e do Comando Vermelho (CV), além de depoimentos de líderes do crime organizado, como Marcinho VP, do Comando Vermelho, e Marcola, do PCC.
Operação Fake Scream: ONG sob investigação
A viagem de Rodrigo Giannetto é parte da investigação da Operação Fake Scream, conduzida pela Polícia Civil de São Paulo em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A operação apura a relação entre o PCC e a ONG Pacto Social & Carcerário de S.P., que teria conexões com a facção criminosa.
O nome da operação, que significa “falso grito”, faz referência ao título do documentário.
Como as passagens foram adquiridas?
Segundo Rodrigo Giannetto, ele foi procurado pela agência K2 para dirigir o documentário. Posteriormente, ao participar de um evento de exibição do filme, ele teria recebido o convite para o festival na Europa. Durante a organização da viagem, algumas ONGs ligadas ao sistema prisional sugeriram que ele entrasse em contato com uma agência de viagens localizada em Jundiaí.
Ao buscar informações sobre os bilhetes aéreos, Giannetto teria sido informado de que as passagens já estavam pagas.