Grupo cria sites e perfis falsos nas redes sociais para vender facas artesanais e enganar vítimas no RS

Fotos e vídeos dos produtos são retirados do perfil oficial da empresa e colocados em outro site. Na Serra, a polícia já identificou mais de 30 contas bancárias que recebem dinheiro do esquema.

A Polícia Civil investiga um novo golpe aplicado no Rio Grande do Sul. Golpistas criam sites e perfis falsos em redes sociais, que imitam marcas de facas artesanais para enganar as vítimas. De acordo com relatos, o grupo negocia os produtos com valores abaixo do mercado. A polícia já identificou mais de 30 contas bancárias que recebem dinheiro do esquema.

Uma empresa de Farroupilha, na Serra do RS, identificou mais de 30 sites e 40 perfis falsos em redes sociais. Na sede da fábrica uma faca custa R$ 9 mil. Os produtos também estão disponíveis na loja virtual, o que desperta atenção dos golpistas. Segundo o estabelecimento, mais de mil pessoas já caíram no golpe.

A reportagem da RBS TV entrou em contato com a Meta, empresa proprietária do Facebook e do Instagram, plataformas em que foram publicados os anúncios, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

O diretor da fábrica de Farroupilha, Tiago Ilha, explica que o golpe prejudicou o faturamento da empresa.

“Foram um decréscimo de 40 a 60% do nosso faturamento, mas não foi isso que me deixou mais triste. O mais triste era a receber o WhatsApp, uma pessoa que tinha um sonho de ter uma faca nossa, e descobrir que estava sendo fraudado”, comenta.

Além disso, o setor de atendimento da empresa também vem sofrendo com reclamações dos clientes.

Segundo Tiago, é difícil retirar os perfis falsos do ar. É necessário provar a identidade quando se faz uma denúncia em anúncios.

“A gente tinha que provar que era o dono da nossa própria marca com o registro de marca do INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial]. Eu perguntava para empresa que detém os anúncios na plataforma como então o fraudador podia criar tantos perfil sem provar que era o dono da minha marca. Então, para derrubar o perfil fake, eu tinha que provar que era dono, agora para criar perfil em meu nome, com os meus vídeos, ninguém precisa provar nada”, relata Tiago.

Em Igrejinha, outra empresa também foi vítima. Os golpistas publicaram em um site falso fotos retiradas do perfil oficial da fábrica, em que o sócio aparece com um conjunto de facas. O produto custa R$ 349, mas é ofertado pelo grupo por R$ 149. Foram mais de 300 vítimas e um prejuízo estimado de R$ 1 milhão, em quatro meses.

A empresária Caroline Willrich comenta as ameaças que o estabelecimento sofreu.

“Era frustrante, todo esse investimento de tempo, tudo isso que a gente dedicava ia parar em mãos erradas e quando as pessoas viam e linkavam: bom eu vi esse vídeo na empresa e agora estou vendo a mesma pessoa nesse outro perfil, eu posso confiar. Quando elas descobriram que era um golpe, elas vinham com ameaças de que iam nos achar, que sabiam o endereço da empresa”, conta Caroline.

Como funciona o golpe?
O grupo retira do perfil oficial da empresa fotos e vídeos dos produtos para colocar em outro site. Após criarem uma nova página, eles impulsionam anúncios falsos nas redes sociais. Então, a vítima interessada entra em contato com o número disponibilizado no perfil falso.

Um farmacêutico, uma das vítimas, relata como foi a experiência após fazer contato com os golpistas.

“Eu já tinha até preparado um final de semana na casa do meu cunhado, ia presentear as facas pra eles. A minha ideia de comprar duas facas, uma homenagem. É horrível”, afirma o homem.

A ação é realizada para o comprador não desconfiar. Outra vítima, de Porto Alegre, recebeu um e-mail de confirmação da compra de uma faca que não foi entregue.

“Depois que eu fiz o PIX eu achei: isso aqui tá muito barato. Aí, peguei, entrei no site e a faca tava R$ 1,4 mil. Tem que ter cada vez mais cuidado pra comprar coisa pela internet. Acessar o site real da empresa pra ver se não cai no golpe novamente”, comenta.

Investigação
Segundo delegado Éderson Bilhan, a investigação segue à procura do grupo que está aplicando o golpe.

“Já estamos com um uma apuração bem avançada e esperamos, muito em breve, elucidar esse caso e chegar no grupo criminoso que realmente está por trás”, pontua a autoridade policial.

O dono da loja virtual de Igrejinha, registrou ocorrência. No entanto, a polícia de Farroupilha não está investigando o crime. O delegado alega que a apuração, segundo prevê a lei, cabe às delegacias das cidades onde moram os clientes.

 

Presos pela Operação Câmbio Livre são condenados pela Justiça em MG

A Justiça Federal em Minas Gerais condenou cinco pessoas por fraude em licitações para compra de medicamentos e evasão de divisas. A sentença foi publicada no dia 14 de julho, mas só foi divulgada nesta segunda-feira (27) pelo Ministério Público Federal (MPF).

Os crimes foram investigados pela Polícia Federal em 2006 durante a Operação Câmbio Livre. Vasco Ferreira Dias e Antônio José Eustáquio Vieira foram condenados por funcionamento ilegal de instituição financeira e evasão de divisas. Já Júlio de Souza Cardoso, Neudir Frare e Luciano Moura Nogueira fraudaram licitações, segundo a sentença.

De acordo com o MPF, a ação foi descoberta a partir de uma denúncia feita por condôminos de um prédio na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Segundo eles, os acusados operavam câmbio clandestino de moeda estrangeira no local. As investigações chegaram até o doleiro Vasco Ferreira Dias. Ele realizava operações de câmbio e remessa de divisas para o exterior, sem a autorização do Banco Central.

Antonio José Eustáquio Vieira, que vivia em Nova York, foi apontado como parceiro de Vasco no exterior. De acordo com o processo, ele vivia como engraxate, mas fazia depósitos e transferências financeiras para o esquema. Em seis meses de investigações, mais de três mil operações com moeda estrangeira foram realizadas e cerca de R$ 1,5 milhão foram enviados ou trazidos do exterior através de contas bancárias nos Estados Unidos e contas abertas em nome de “laranjas” no Brasil.
Vasco Ferreira foi condenado a quatro anos e quatro meses de prisão. Antônio Eustáquio Vieira, recebeu pena de três anos e quatro meses de reclusão.

Compra de medicamentos
Já a fraude em licitações para compra de medicamentos, outro braço do esquema investigado pela Polícia Federal, era feita por pessoas que atuavam na venda de produtos farmacêuticos. Segundo o processo, os réus Júlio de Souza Cardoso, Neudir Frare e Luciano Moura Nogueira combinavam entre si quais seriam os vencedores nas licitações abertas por órgãos públicos de vários estados e cidades do país.

De acordo com a sentença, “restou claramente evidenciado o ajuste prévio entre os interessados com o fim de fraudar o Pregão Eletrônico nº 201/2006 da Fundação Osvaldo Cruz-FIOCRUZ, fundação autárquica federal, ocorrido no dia 01 de novembro de 2006”.

Segundo o MPF, além da licitação feita pela Fiocruz, houve manipulação em processos feitos pelas prefeituras de São Luís (MA), Blumenau (SC), além de Betim, Ribeirão das Neves e Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Júlio de Souza Cardoso, Neudir Frare e Luciano Moura Nogueira foram condenados a dois anos de prisão cada um. Porém, a pena foi substituída por multa mensal no valor de quatro salários mínimos pelo prazo de 12 meses e prestação de serviços à comunidade por dois anos.

O MPF recorreu da sentença. O órgão pede aumento das penas e a condenação por formação de quadrilha.

Operação Câmbio Livre
Em 2006, a Polícia Federal (PF) prendeu 13 pessoas suspeitas de envolvimento com um esquema de fraudes a licitações de medicamentos e em crimes contra o sistema financeiro nacional.

Os mandados de prisão temporária e busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal de Belo Horizonte, foram cumpridos na região metropolitana da capital mineira, em São Paulo e na cidade paranaense de Toledo, dentro da chamada Operação Câmbio Livre.

De acordo com a PF e o Ministério Público Federal (MPF), a “organização criminosa” operava em dois núcleos, sendo um especializado na fraude a concorrências públicas e outro voltado para a prática de crimes como evasão de divisas, lavagem de dinheiro e atuação de instituição financeira sem autorização.
A própria investigação sobre as fraudes nas concorrências públicas teve origem em um inquérito que apurava a compra e venda de moeda estrangeira. Foram investigadas 21 licitações, sendo que em seis as fraudes foram comprovadas, envolvendo recursos da ordem de R$ 3,5 milhões.