Polícia e Conselho de Enfermagem investigam se donos de clínica em SP, que são enfermeiros, também torturaram paciente até a morte

Cleber Silva e Terezinha Conceição são proprietários da Comunidade Terapêutica Efata, em Cotia, onde Jarmo Santana foi agredido e depois morreu. Funcionário Matheus Pinto foi preso pelo crime. Além dele, pelo menos mais 6 pessoas são investigadas por suspeita de tortura.

A Polícia Civil e o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) investigam se os donos da clínica de reabilitação para dependentes químicos na região metropolitana, onde um paciente foi torturado por um funcionário até a morte, também participaram das agressões.

O paciente Jarmo Celestino de Santana morreu na segunda-feira (8). Segundo o hospital que o socorreu em Vargem Grande Paulista, o homem apresentava várias lesões pelo corpo e não resistiu aos ferimentos. Ele tinha 55 anos e havia sido internado compulsoriamente pela família na última sexta-feira (5) na Comunidade Terapêutica Efata, em Cotia.

Matheus de Camargo Pinto, funcionário da clínica, foi preso em flagrante e indiciado pelo crime de tortura com o resultado morte. Ele tem 24 anos e confessou à polícia ter agredido e filmado Jarmo amarrado numa cadeira (veja vídeo abaixo). Nas imagens é possível ver outras quatro pessoas rindo da situação.

A alegação que Matheus deu foi a de que o paciente estava “transtornado psicologicamente” e em “surto” e precisava ser contido. Nesta semana a Justiça decretou a prisão preventiva de Matheus.

Em seu interrogatório, Matheus falou que Cleber Fabiano da Silva e Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição, que são enfermeiros e donos da Comunidade Efata, o ajudaram a conter Jarmo. E que, além dele, outras quatro pessoas (sendo quatro agentes de remoção de pacientes de uma empresa terceirizada e dois monitores da clínica) também participaram das agressões contra o paciente.

O inquérito feito pelo 1º Distrito Policial (DP) de Cotia investiga as causas e responsabilidades pelo crime. Ao menos outras seis pessoas são investigadas no total por suposto envolvimento no caso.

“Um laudo médico preliminar indica que a vítima teve lesões em datas diferentes, o que, segundo conversa com peritos, caracteriza ter ocorrido tortura”, disse a delegada Marcia Ianotti à reportagem. “A investigação aguarda o laudo do IML [Instituto Médico Legal] que irá apontar a causa da morte do paciente”.

“Também apuramos quem mais participou da tortura. Queremos saber se os donos e outros funcionários participaram”, falou a delegada que investiga se outras pessoas participaram diretamente das agressões contra Jarmo ou se foram omissas por não tentar impedi-las.
O casal Cleber e Terezinha já negou à polícia e por meio da sua defesa ter participado das sessões de tortura. Em entrevista à TV Globo, o dono da clínica alegou que “não participei da agressão, em momento nenhum.”

Os donos da clínica já responderam criminalmente por maus-tratos contra quatro adolescentes internados em outra unidade terapêutica gerida por eles, em 2019. A defesa deles negou essa acusação e alegou que seus clientes são inocentes. O caso acabou arquivado pela Justiça porque o crime prescreveu.

Seis pessoas já foram ouvidas sobre o caso da tortura contra Jarmo na delegacia. Outras oito deverão prestar depoimento a partir desta quinta-feira (11).

Coren investiga donos enfermeiros

O Coren-SP vai apurar se Cleber e Terezinha, que são enfermeiros, cometeram alguma infração ética e profissional. Para isso, o Conselho Regional de Enfermagem investiga se os donos da clínica também participaram da tortura contra o paciente que morreu.

“O Coren-SP abriu sindicância para investigação da eventual participação de profissional de enfermagem no falecimento de paciente na instituição em Cotia. A apuração seguirá sob sigilo processual e, após a averiguação dos fatos, se forem constatados indícios de infração ética, será instaurado um processo ético-profissional”, informa trecho da nota divulgada pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.

“Os profissionais eventualmente envolvidos poderão ser notificados para manifestar a sua versão do fato, garantido o direito de defesa. As penalidades previstas na Lei 5.905/73, em caso de confirmação da infração são: advertência, multa, censura, suspensão temporária do exercício profissional ou cassação do exercício profissional pelo Conselho Federal de Enfermagem”, concluiu o Coren em seu comunicado.
Ainda nesta terça, a Prefeitura de Cotia informou que a clínica de reabilitação era clandestina. Uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no endereço, interditou o local e atestou que a clínica particular não tem nenhum tipo de autorização para funcionamento.

A advogada Terezinha Cordeiro de Azevedo, que defende os interesses dos donos da clínica informou, no entanto, que, segundo os proprietários, o estabelecimento não é clandestino, está regularizado e tem autorização para funcionar.

Pai acusado de matar filha de 4 anos por asfixia em 2015 é condenado a um ano e seis meses de prisão por homicídio culposo

Ricardo Krause tinha sido condenado a 24 anos de prisão em 2018, mas TJ anulou júri em 2020. Sophia Kissajikian Cancio Najjar morreu asfixiada com um saco plástico em 2015. Novo júri começou na quarta (24) e foi encerrado na quinta (25).

Ricardo Krause Esteves Najjar, cozinheiro acusado de matar a filha Sophia Kissajikian Cancio Najja, de 4 anos, em 2015, foi condenado nesta quinta-feira (26) a um ano, seis meses e 20 dias de prisão por homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar.

O novo júri começou na quarta (24) e foi encerrado às 23h45 desta quinta (25). O primeiro julgamento, no qual ele tinha sido condenado a 24 anos e 10 meses de prisão em 2018, foi anulado após dois anos (entenda abaixo).

Ao Programa Encontro, da TV Globo, Lígia Kissajikian Câncio, mãe da menina, lamentou e disse que o Ministério Público já recorreu da nova decisão.

“Para a nossa família é uma intensa tristeza não sentir que a justiça tenha sido feita nesse caso. Não estamos satisfeitos com a decisão, já decidimos recorrer e gostaria de dizer que vou continuar lutando por justiça.”

Relembre o caso
O crime foi registrado em dezembro de 2015, no Jabaquara, Zona Sul. A criança foi encontrada asfixiada com um sacola plástica na cabeça. Na época, a defesa do pai alegou se tratar de um “acidente doméstico”, pois a criança estaria brincando com a sacola.

Ricardo foi preso no velório da menina e ficou um ano preso. Foi solto antes do julgamento por “excesso de tempo de prisão temporária”. Voltou a ser preso em março de 2017.

Em 2018, Ricardo foi julgado e condenado a 24 anos e 10 meses de prisão por homicídio doloso, quando há intenção de matar, duplamente qualificado. Ele também foi condenado pelos jurados por fraude processual, por ter supostamente alterado a cena do crime. Na época, o cozinheiro estava preso na Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba.

Em setembro de 2020, porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo divulgou que havia anulado o júri que condenou o autônomo.

Os desembargadores que integravam a 12ª Câmara Criminal de São Paulo entenderam, por decisão unânime, que o julgamento que condenou Krause em 2018 era nulo devido à “contradição dos quesitos dos jurados”. Os magistrados determinaram a liberdade provisória do réu.

A defesa de Krause, o advogado Antonio Ruiz Filho, comemorou a decisão na época, afirmando ser “justa”, após “ele aguardar tanto tempo preso pelo julgamento” e pela inconsistência na resposta dos jurados sobre a qualificadora do crime por meio de execução cruel, com o uso de asfixia, já que um dos jurados, segundo o advogado, mudou de opinião durante o julgamento dos quesitos.

Os desembargadores entenderam que, como ele esperou preso pelo julgamento, deveria ser posto em liberdade para aguardar pelo novo júri.

O segundo júri foi remarcado diversas vezes por conta da pandemia e também a pedido da defesa, mas agora a previsão é que ele aconteça nesta semana.

O crime
A menina morava com a mãe, mas passava alguns períodos com o pai. Foi no apartamento de Krause, na Zona Sul de São Paulo, que ela morreu asfixiada com uma sacola plástica na cabeça.

Peritos e investigadores vasculharam duas vezes o apartamento, no primeiro andar de um prédio, no Jabaquara, e não encontraram sinal de que havia outra pessoa no lugar além da menina e do pai no dia do crime. Não havia sinais de arrombamento.

A namorada de Ricardo e a irmã dela, que também moravam no apartamento, disseram para a polícia que não estavam em casa no dia do crime. Ricardo foi preso, dois dias depois, no velório da filha.

Os exames do Instituto Médico Legal concluíram que a criança apresentava manchas roxas pelo corpo, o tímpano rompido e uma lesão na parte interna da boca. O pai de Sophia sempre se disse inocente e contou à polícia que tomava banho e, quando saiu, encontrou a filha com uma sacola na cabeça sem respirar.

Um ano depois da prisão de Ricardo, em dezembro de 2016, o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou soltá-lo. Em sua decisão, ele considerou haver “excesso de prazo” na prisão temporária – decretada antes da condenação para preservar as investigações ou evitar novos crimes.

Responsável por posto que explodiu é dono de outro posto que pegou fogo em 2017

O responsável pelo posto de gasolina que explodiu nesta terça-feira na Zona Norte de São Paulo é dono de um outro posto que também foi alvo de uma explosão em 2017. Quando as explosões aconteceram, os dois postos funcionavam de maneira irregular porque estavam sem licença de operação.

O empresário Mohamad Hussein Mourad, responsável pelo posto, esteve no local nesta quarta-feira, acompanhando os trabalhos de remoção dos escombros por uma empresa de demolição contratada por ele. Ele também conversou com policiais militares que estavam no local. O posto se chama Auto Posto Novo Conceito 1 e fica na Avenida Imirim, na Zona Norte da capital.

O outro posto que explodiu é o Auto Posto Vip 2 e fica na Rua Maria Amália Lopes Azevedo, também na Zona Norte. Em junho de 2017, esse posto foi alvo de um incêndio causado por três fortes explosões no momento em que dois caminhões-tanques faziam uma transferência de combustível para o reservatório do posto.

O script foi praticamente o mesmo de agora: as explosões provocaram forte estrondo, assustaram a vizinhança e deixaram três funcionários feridos. Na explosão da última terça, sete pessoas ficaram feridas e cerca de 20 imóveis sofreram prejuízos.

Nas duas ocasiões, os postos não tinham licença de operação da Cetesb, a companhia ambiental do estado, ou seja, estavam funcionando de forma irregular. No posto da Avenida Imirim, a licença estava vencida há sete meses. No outro, nunca chegou a ser emitida. Nas datas das explosões, os dois postos tinham elementos visuais da bandeira Ale, embora a empresa já não tivesse mais contrato com os estabelecimentos.

O posto que pegou fogo no ano passado está registrado na Junta Comercial em nome de Mohamad Hussein e de um familiar dele chamado Hussein Ali Mourad. Já o posto que explodiu nesta semana está em nome de Rita Cosmo Nunes e de Jean Carlos Pereira. O endereço residencial informado por Rita na Junta Comercial é o mesmo de Mohamad, na própria Avenida Imirim.

O problema é que no local funciona um consultório odontológico há mais de cinco anos. A reportagem da CBN telefonou para o estabelecimento, mas a atendente afirmou que nenhuma dessas pessoas trabalha ou mora ali.

Já o endereço residencial informado por Jean Carlos Pereira é, na verdade, outro posto de gasolina, na Avenida Santa Inês, no Parque Mandaqui.

A Polícia Civil ouviu nessa terça-feira várias testemunhas para elaborar o boletim de ocorrência. Um inquérito para investigar o caso vai ser instaurado ainda nesta semana. O delegado Evaldo Pedrosa Bastos, do 28º DP, da Vila Amália, vai convocar novamente as testemunhas após a abertura das investigações.

Nesta quarta-feira, peritos retomaram os trabalhos no posto. O laudo que vai apontar as causas da explosão deve ficar pronto em no máximo 30 dias.

A reportagem da CBN entrou em contato com o escritório de advocacia que atende o empresário Mohamad, mas não teve retorno. Os demais citados não foram localizados.