Oito viram réus por desmatamento e grilagem na região da Praia do Puruba, em Ubatuba, SP

Justiça acatou denúncia do Ministério Público Federal, que acusa o grupo de invadir, desmatar e comercializar terras em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo.

Oito pessoas viraram réus por participação em um esquema de desmatamento e grilagem na região da Praia do Puruba, em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo. Acatada pela Justiça Federal, a denúncia aponta que o crime acontecia desde 2010.

A decisão é do juiz federal Carlos Alberto Antônio Júnior e acontece após denúncia do Ministério Público Federal, que acusa o grupo de invadir, desmatar e comercializar terras na área- leia mais detalhes abaixo.

Os réus são:

Arthur Eduardo Paes Leme Medeiros
Constantino Orivaldo Leite
Edson Geraldo dos Santos
Egídio Braga da Silva
Gervásio Marciano Leite
Getúlio Rodrigues de Araújo Leite
Jorge Venâncio
Paulo Henrique Leite

Os denunciados responderão por crimes ambientais e contra a Administração Pública, constituição de organização criminosa, falsificação de documentos públicos, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e fraude processual.

De acordo com o documento ao qual o g1 teve acesso, a denúncia foi aceita pela justiça pois ‘vem embasada em provas da existência de fatos que constituem crimes em tese e indícios da autoria’.

Práticas criminosas
O Ministério Pública Federal denunciou, no início de novembro do ano passado, oito pessoas por invasão, desmatamento e comercialização de terras em Ubatuba (SP).

Segundo a denúncia, o crime acontecia desde 2010 na região da Praia do Puruba. Uma parte da região que foi alvo dos crimes do grupo fica no Parque Estadual da Serra do Mar, maior reserva de Mata Atlântica do Brasil.

De acordo com a denúncia, feita pela procuradora da República Walquiria Imamura Picoli, o grupo invadia áreas privadas e públicas para comercializá-las de forma ilegal. Para isso, os suspeitos usavam processos judiciais fraudados.

O MPF aponta que as ações criminosas causaram a remoção de mais de 22 mil metros quadrados de vegetação nativa na Mata Atlântica.

Desse total, quase três mil metros quadrados são de terrenos da marinha do país, que pertencem à União. Além disso, quase quatro mil metros quadrados fazem parte de áreas de preservação permanente.

Após invadir as áreas, o grupo tentava conseguir o reconhecimento da posse delas por meio de processos judiciais com documentos falsos.

Segundo o Ministério Público Federal, inúmeras ações de usucapião, reintegração de posse e indenização foram feitos com uso de contratos forjados e certidões falsas de cartórios de Taubaté e Cruzeiro, no Vale do Paraíba.

O MPF afirma que os suspeitos tinham como objetivo produzir provas de que exerciam posse legal das áreas que haviam invadido e desmatado para comercializar.

Em um dos processos, de 2013, um dos criminosos pediu indenização de R$ 87,5 milhões por desapropriação após o Parque Estadual da Serra do Mar ter sido oficialmente estabelecido, em 1977.

No processo, ele alegou que sofreu prejuízos com a perda de um sítio que teria posse no local – o imóvel, porém, nunca existiu. Apesar disso, os documentos falsos que foram apresentados induziram a Justiça ao erro.

O pedido foi indeferido, mas a Justiça confirmou indiretamente a suposta posse ao citar que o requerente não sofreu nenhum dano, pois “continua a ocupar a área normalmente”.

Ainda segundo o órgão federal, as invasões cometidas pelo grupo compreendem o trecho entre os rios Puruba e Quiririm, além da faixa de areia da Praia do Puruba.

No local, foram construídas vias de acesso, casas e até estabelecimento comerciais, como empreendimentos turísticos irregulares, campings, estacionamentos, restaurantes e quiosques.

Danos ambientais
A prática provocou consequências à natureza local. Laudos produzidos durante as investigações mostram impactos ambientais, como perda de vegetação, prejuízos à fauna, aumento no número de erosões e alteração na drenagem natural do solo.

Além disso, a ocupação causou problemas na regeneração da mata removida e aumento da produção de lixo e poluição sonora por conta do maior número de pessoas e veículos na região.

O que dizem os réus?
O g1 entrou em contato com o advogado Aguimael Ângelo de Sousa, que defende os réus Jorge Venâncio, Constantino Orivaldo Leite, Gervásio Marciano Leite, Edson Geraldo dos Santos, Paulo Henrique Leite e Getúlio Rodrigues de Araújo Leite.

O advogado informou apenas que a inocência de seus clientes será comprovada no curso do processo.

A reportagem tenta contato também a defesa de Arthur Eduardo Paes Leme Medeiros e Egídio Braga da Silva, mas não conseguiu contato até a última atualização.

Fazendeiro é preso pela Operação Veredas do Ibama por causar dano à area protegida

 

Operação é a primeira de grande porte para proteger bioma Cerrado no Oeste da BA

Barreiras/ BA (07/11/08) – O fazendeiro Haroldo Uemura foi preso ontem, no município de Formosa do Rio Preto, Oeste da Bahia, pela Operação Veredas, do Ibama, por violar embargo de área desmatada realizado há quatro anos e porte ilegal de arma. A área de 2.200 hectares utilizada para o plantio de soja fica localizada na Fazenda Mauá, dentro do Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba. Uemura foi autuado em R$ 440 mil e permanece detido na Delegacia da cidade. Máquinas, equipamentos, sementes e agrotóxicos utilizados na lavoura de soja foram apreendidos. A soja será doada pelo Ibama para o Fome Zero. As sementes e agrotóxicos serão destinados à Embrapa. O ministro Carlos Minc participou da ação.

Em outra fazenda denominada Sertânia, os agentes do Ibama flagraram 320 fornos de produção de carvão vegetal que consumiam espécies nobres do sertão baiano protegidas pela legislação ambiental como aroeira e pau d’arco. Oitenta fornos já foram destruídos. O Ministério do Trabalho autuou o responsável pela fazenda em flagrante por manter trabalhadores em condições semelhantes à escravidão. O MT providencia que os trabalhadores tenham os seus direitos garantidos.

Resultados – Em doze dias, a Operação Veredas já embargou um total de 12 mil hectares de áreas desmatadas ilegalmente em seis municíos do Oeste baiano. As multas ultrapassam R$ 6 milhões. Os alvos são 83 áreas indicadas como desmatadas pelas imagens de satélite referentes aos anos 2006 e 2008. Tristeza, indignação, impotência são os sentimentos do agente de fiscalização Francisco Procópio diante do cenário vazio do cerrado fruto da passagem do correntão. “É preciso chegar antes das árvores tombarem”, desabafa.

Onze derrubadas estão localizados dentro de áreas protegidas do Parna Nascentes do rio Parnaíba e da Estação Ecológica Serra do Tocantins. Também estão sendo fiscalizadas as atividades de carvoejamento e transporte de carvão vegetal. Proprietários de áreas onde há construção de barragem são notificados para apresentarem documentação referente ao empreendimento. Para o Gerente do Ibama de Barreiras, Zenildo Eduardo, a Operação Veredas mostra o interesse do Ibama e MMA de proteger outros biomas além da Amazônia. “Pela primeira vez temos uma operação de grande porte nessa região de cerrado que é grande produtora de águas”, comemora Eduardo.

A região fiscalizada pela Operação Veredas fica próxima à divisa da Bahia com os estados do Tocantins e Piauí, à margem esquerda do rio São Francisco, banhada pelas bacias dos rios Grande, Preto, Corrente e Carinhanha, formada por 29 rios perenes. Geograficamente está inserida na região mais rica em recursos hídricos do Nordeste Brasileiro. As bacias desses rios atingem 62.400 km² o que eqüivale a 82% das áreas dos cerrados.

Segundo o coordenador-geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, a Operação continua por tempo indeterminado na região. “Continuaremos a coibir o desmatamento ilegal do Cerrado, carvoarias irregulares e barragens clandestinas, a fim de proteger as Unidades de Conservação do Oeste da Bahia”, assevera Evaristo.

A Polícia Militar da Bahia é parceira do Ibama na Operação Veredas. Um helicóptero utilizado pelo Grupamento Aéreo da PM (GDAER/PM) sobrevoa a região e identifica os ilícitos ambientais. A PM/BA também apóia os agentes do Ibama durante incursões terrestres.

MT: ilegais do agronegócio grilam terras públicas de R$ 1 bi

Esquema, orquestrado por 13 fazendeiros do agronegócio e políticos de MT, foi desbaratado pela PF na Operação Terra Prometida

Uma organização criminosa e armada, envolvendo dois irmãos do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, se apropriou de mil lotes da União, que, juntos, valem R$ 1 bilhão, em um assentamento no Norte de Mato Grosso. Os lotes ficam no Assentamento Itanhangá, em município de mesmo nome. O esquema, orquestrado por 13 fazendeiros do agronegócio e políticos da região campeã em plantio de soja no mundo, foi desbaratado pela Policia Federal, que desencadeou nesta quinta-feira (27) a primeira fase da Operação Terra Prometida.

O delegado federal Hércules Sodré, que conduziu os cumprimentos de mandados de busca e apreensão e prisão expedidos pela Justiça Federal, disse em entrevista coletiva no final da tarde que “isso tudo depõe contra a reforma agrária no Brasil”. O delegado disse ainda que o esquema era público e notório e que os envolvidos acreditavam que nada os aconteceria.

Até o fechamento da reportagem, 20 pessoas haviam sido presas. Outros 32 investigados, contra os quais também foram expedidos mandados de prisão preventiva, não haviam sido encontrados ainda, entre eles os irmãos Geller – Odair e Milton, que, através de advogados, asseguraram à PF que vão se entregar espontaneamente. Se não fizerem isso até a meia noite de hoje, serão considerados foragidos. “Essas duas pessoas utilizaram nomes de vários parentes, sobrinhos, irmã, irmão, tio, para colocar lotes em nome deles”, informou o delegado Hércules. O delegado destacou que o ministro Geller não está sendo investigado e que não tem conhecimento de que o esquema tenha tido qualquer favorecimento junto ao Governo Federal.

A força-tarefa da PF, que contou com 350 policiais de oito estados, cumpriu também 146 mandados de busca e apreensão e 29 de medidas proibitivas.

Os cabeças do esquema, segundo a PF, são 13 grandes fazendeiros do agronegócio e políticos locais. O papel deles era garantir lotes do assentamento Itanhangá para pessoas que não têm o perfil da reforma agrária. “Pelo contrário, são fazendeiros, servidores públicos, empresários e donos de supermercado, por exemplo”, cita a procuradora da República, Ludimila Monteiro.

O grupo dos 13 foi chamado de ‘primeiro escalão’. Os irmãos Geller – Odair e Milton – aparecem no ‘segundo escalão’ junto com 59 suspeitos, que se beneficiavam das terras, especialmente para plantar soja. Nesse grupo, há famílias de Lucas do Rio Verde, por exemplo, e outras que vivem até no Rio Grande do Sul, embora o beneficiado pela reforma agrária tenha que viver no assentamento e não explorar a terra de outro lugar.

Três sindicalistas foram presos. Segundo a PF, eles indicavam nomes de pequenos produtores rurais sem-terra para serem laranjas de produtores que estão usando a área ou para tomarem posse nos lotes, sendo depois expulsos, mediante indenizações de valor bizarro ou ameaças de morte. A PF apurou que, nesse clima hostil, chegaram a acontecer assassinatos que nunca foram apurados. Isso quer dizer que o esquema criava um ambiental de violência real fundiária na região de Itanhangá.

Do grupo dos servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) investigados, quatro foram presos. Eles chegaram, por exemplo, a fazer sumir do sistema do Incra 300 lotes. Desse grupo, o delegado Hércules destacou Genuíno Magalhães, que “esquentava” terras dentro do Instituto.

As apurações do Ministério Público Federal (MPF) indicam que foram favorecidas 80 famílias, como os Geller, os Tobaldini, os Deliberalli, os Versari e outras. “São vários grandes grupos do agronegócio que estão ocupando e plantando ilegalmente terra da União e isso é concentração fundiária em área pública por pessoas que não têm aptidão para a reforma agrária”, denuncia o delegado Hércules. “E isso acontece em todo o Brasil”.

A primeira fase da Operação ainda não terminou porque os mandados judiciais ainda estão cumpridos, inclusive em localidades rurais distantes e algumas até de difícil acesso.

A quadrilha vai responder por crimes de estelionato, fraude, formação de organização criminosa, associação para o crime e também crimes ambientais. “Muitos deles, ao tomar posse das áreas, desmataram tudo, 100%, sem respeitar a lei que exige a preservação de parte da vegetação”, explica a procuradora Ludimila. O desmate se dava para abrir pasto, lavoura e extrair madeira. Itanhangá fica em região amazônica. “Acho importante destacar que esses lotes são explorados como verdadeiros latifúndios, são homens do agronegócio e há investigados do caso explorando mais de 50 lotes”, destaca a procuradora. É o caso dos fazendeiros Jesus Valdomiro e Elio Fiquiinelo.

A procuradora destaca ainda ainda que, em outras etapas das investigações, o MPF e a PF devem se debruçar aos desdobramentos do caso, mediante a avaliação de documentos apreendidos. Isso quer dizer, segundo ela, que podem haver pedidos de bloqueio de bens, para a devolução de dinheiro público. Ela também cogita que os beneficiários da reforma agrária sejam procurados para que possam se apropriar da terra que lhe é de direito e da qual foram expulsos.

Todos os presos nessa primeira fase da Operação Terra Prometida serão ouvidos e encaminhados a presídios.

O assentamento Itanhangá é terceiro maior da América Latina instituído em 1997 e tem 1.149 lotes. Conforme o delegado Hércules, o esquema espolia a União nessa área desde então. A região tem uma topografia plana e o solo muito produtivo.

As investigações do MPF e da PF têm origem em uma denúncia feita pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. O Terra tentou ouvir os irmãos Geller, através da Assessoria de Imprensa, mas eles ficaram de se pronunciar somente nessa sexta.