DOEPE 19/10/2022 - Pág. 1 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano XCIX • No 200
Poder Executivo
Recife, quarta-feira, 19 de outubro de 2022
Jovem na Febem,
Expedita usa sua
experiência no trabalho
dentro da Funase
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E 2018,
Expedita, hoje
com 59 anos, foi
aprovada em uma
seleção
simplificada na
Funase e
ingressou como
funcionária na
mesma instituição
que a atendeu
quando era
adolescente em
vulnerabilidade
social
Ainda na adolescência, ela procurou os serviços da antiga fundação por vivenciar
cenário de violência doméstica. Quase meia década depois, volta à instituição,
hoje denominada Funase, para atuar como funcionária.
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trabalho realizado nos núcleos preventivos da antiga Fundação Estadual
do Bem-Estar do Menor
(Febem) impactou vidas que
até hoje se relacionam com a área da infância e juventude. É o caso de Expedita Celestina da Silva, de 59 anos, que, na década
de 1970, durante sua adolescência, foi usuária dos serviços dos Centros Sociais Urbanos (CSU), onde a Febem tinha equipes
para atividades escolares, esportivas, profissionalizantes e de lazer. Hoje, ela é agente socioeducativa na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), ligada ao
Governo do Estado, e contribui com o trabalho de reinserção de adolescentes e jovens no convívio social após a prática de
atos infracionais.
Diferentemente da Funase, que atua apenas junto ao público em conflito com a lei, a
Febem atendia pessoas com um leque maior
de vulnerabilidades sociais, sem ligação, necessariamente, com atos infracionais. Elas
eram desligadas do atendimento institucional com, no máximo, 18 anos de idade.
Nascida no município de Machados, no
Agreste Setentrional, mas criada com mais
três irmãs na Linha do Tiro, no Recife, Expedita se deparou, desde cedo, com a violência doméstica. Ela também foi impedida de
estudar por algum tempo e acabou sendo alfabetizada somente aos 14 anos, justamente quando passou a ir ao CSU de Dois Unidos, na Zona Norte, às escondidas, levada
por uma vizinha.
“A gente passava o dia com alimentação
reforçada, mas não dormia lá no núcleo da
Febem. Fazíamos passeios também. Eu passei a fazer muitos cursos, de doces e salga-
dos, corte e costura, confecção de porta pano de prato. Tudo o que era oferecido era
voltado à geração de renda. Isso que estou fazendo hoje, como instrutora de oficinas na Funase, era do que eu participava como adolescente naquela época, na Febem”,
conta Expedita, durante o intervalo de uma
das aulas de artesanato que ministra para socioeducandos da Casa de Semiliberdade (Casem) Harmonia, unidade da Funase situada no bairro da Iputinga, na Capital
pernambucana.
Depois de ser desligada do núcleo da Febem, Expedita passou a militar na área social.
Como psicopedagoga e educadora social,
atuou com adolescentes em cumprimento de
medidas socioeducativas no meio aberto a
serviço das prefeituras do Recife e de Camaragibe. Também já deu sua contribuição ao
Programa Atitude, do Governo de Pernambuco. Em 2018, foi aprovada em uma sele-
ção simplificada na Funase e ingressou como funcionária na mesma instituição que a
atendeu quando era adolescente em vulnerabilidade social. Ela diz que, hoje, tenta usar
sua experiência para oferecer um atendimento humanizado aos socioeducandos.
“Fiquei em sala de aula como professora
por um tempo, mas minha paixão sempre foi
atuar com pessoas em vulnerabilidade. Fiz
curso de grafologia. Pelos desenhos que uma
criança faz, sei dizer se ela está sendo violentada ou não. Só não posso dar o diagnóstico. Acho que tudo isso me preparou para
estar onde estou. Consegui superar minha situação familiar, liberando perdão, e acho que
estou aqui na Funase para ajudar esses adolescentes a deixarem de lado o pensamento
de que eles não têm mais jeito. Como agente
socioeducativa, sou um cartão de visitas para esses meninos, e tento ser isso com o que
aprendi na vida”, afirma.
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