DOEPE 02/01/2023 - Pág. 3 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Ano C • NÀ 1
Diário Oficial do Estado de Pernambuco - Poder Executivo
Íntegra do
discurso na
solenidade
de posse no
Palácio do
Campo das
Princesas
Recife, 2 de janeiro de 2023 - 3
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uero começar esse meu primeiro discurso como governadora de Pernambuco, num dia histórico para nossa
sociedade, me dirigindo especialmente às mulheres.
Pela primeira vez, desde que nos tornamos
uma unidade federativa, uma mulher igual a cada uma de vocês, eleita pela vontade do povo,
vai ocupar este lugar. É uma honra, um orgulho
e uma enorme responsabilidade que esta mulher
seja eu, tendo ao meu lado esta brava companheira de jornada, nossa vice, Priscila Krause.
Tenham a certeza e a confiança, que assim como as heroínas de Tejucupapo, estaremos alertas,
vigilantes e determinadas a defender nossa terra,
seja qual for o desafio.
Junto conosco estão os sonhos e as esperanças
de muitas outras. De minha mãe, Mércia Lyra,
minhas irmãs, Nara e Paula, de tantas Severinas,
Marias, Vanessas e Lauras que têm a esperança
de um futuro melhor. Esperança. Essa palavra feminina que, junto de uma outra, a Coragem, vão
levar Pernambuco para um novo tempo.
Quem se dirige a vocês no dia de hoje é a nova
governadora de Pernambuco. Mas, antes de tudo,
é também a mãe de Nando e João, amores da minha vida, que me deram força pra chegar até aqui.
Vocês, meus filhos, tenham a certeza, de que tudo
que farei aqui será sempre para que, no final de
cada dia, vocês tenham orgulho da mãe que têm.
Se cheguei aqui hoje é porque tive, ao longo
de muitos anos, um parceiro de fé inabalável, que
sonhou meus sonhos comigo, lutou minhas lutas
comigo e, dessa maneira, fez com que todo sonho e toda luta não fossem apenas meus, mas fossem nossos. Deu certo. Nêgo, você estará sempre
aqui comigo.
Quero, nestas primeiras palavras, trazer a inspiração do que vi na vida. Do que a política me
mostrou de melhor, porque é pela política que podemos garantir a democracia, unir pessoas e melhorar a vida delas, olhando de forma especial
para os que mais precisam da ação do poder público. Aquelas que se sentem invisíveis porque
governo nenhum chega nelas.
Há muitos anos, eu ainda era uma menina, e
meu pai, João Lyra Neto, então prefeito de Caruaru,
nos levava pra rodar pela cidade, ver quais eram os
problemas, os buracos na rua, olhar nos olhos das
pessoas, conversar. Numa dessas andanças lembro
de algo que me marcou para sempre. Eu vi a fome.
O rosto dela. Seus cabelos e olhos escuros. Era uma
mulher e seus filhos. Uma família que tinha muito
pouco. Quase nada. Só tinham a si mesmos e a esperança de que alguém fizesse por eles. Passados
tantos anos, aquela menina está aqui diante de vocês como Governadora. Mas a fome ainda permanece no rosto de milhões de mães, pais e filhos de
Pernambuco. Não podemos seguir convivendo com
este, que é o sinal mais claro e doloroso da falta do
Estado na vida do povo. É por aí que a mudança vai
começar, com o Mães de Pernambuco, um auxílio
financeiro que vai chegar pra quem mais precisa e
ajudar a colocar comida no prato.
Meu tio, Fernando Lyra, que foi o ministro da
Justiça que acabou com a Censura no Brasil, afirmou certa vez que o maior problema brasileiro
era o apartheid social. Como se existissem países
diferentes, dentro do mesmo território. Dividindo os mais ricos e os que não têm nada. Diminuir
estas fronteiras, levando educação, trabalho, moradia, saúde, cidadania e dignidade não é apenas
uma meta para mim. É antes de tudo uma definição de vida. É o que me motiva a estar aqui. É o
que vamos perseguir diariamente.
Neste novo ciclo, que começamos a construir
juntos a partir de agora, há ainda mais a ser feito do que havia em 2007, quando Eduardo Campos e João Lyra, assumiram o governo do estado.
Muito do que se conquistou num passado recente, foi perdido nos últimos oito anos. O Pernambuco que recebemos lidera indicadores nacionais
de desemprego, miséria, violência e desalento.
Não podemos mais aceitar ser uma sociedade em que parte das pessoas não come, enquanto outra parte não dorme com medo da violência.
Os ingredientes da paz social, são o amor, o trabalho e o pão. A pobreza é novamente um desafio
a ser enfrentado, exigindo de todos nós unidade,
capacidade de dialogar e entrega ao trabalho. Sabemos que as pessoas esperam de nós uma gestão
pautada pela justiça, sensível diante das desigualdades, criativa na busca de soluções e com agilidade para fazer mais.
Dom Hélder Câmara costumava dizer que é
graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é
não desistir nunca. O nosso governo persistirá e
não desistirá. Não podemos mais dar raízes para
os problemas. Temos que dar conta das soluções.
Para combater a violência que aflige nosso estado, vamos construir uma política pública eficiente, chamando todas as forças envolvidas nesse processo pra participar e ajudar a pacificar
nossas ruas. Quem mora aqui não pode seguir
vivendo com medo. Quem vem visitar, tem que
voltar pra casa com o desejo de retornar mais vezes à nossa terra. O Juntos Pela Segurança vai ser
uma das nossas prioridades.
Assim como a saúde, que anda tão combalida.
É preciso requalificar hospitais e construir novas
instalações. Agir emergencialmente para reduzir
as filas de exames e consultas. Não é do dia pra
noite que se resolvem essas questões. Mas vamos
trabalhar exaustivamente para que, pouco a pouco, elas passem a ser solucionadas.
Como afirmamos durante a campanha, olhando nos olhos das pernambucanas e dos pernambucanos, vamos trazer de volta as oportunidades
para que o povo tenha trabalho. Para que os jovens possam estudar, se qualificar e depois conquistar um emprego. Para que as mães vejam
filhas e filhos crescendo com segurança. O governo tem a tarefa de induzir o desenvolvimento,
indo em busca de empresas que aqui queiram investir, ampliando a infraestrutura para tornar viáveis os empreendimentos e gerando um ambiente
de negócios dinâmico, arrojado e ativo.
O desenvolvimento não pode e não estará restrito apenas a uma região do estado. Sou filha do
interior. A primeira filha do interior a ser eleita
Governadora. Sei das dificuldades para quem vive e quer trabalhar por lá. Conheço esse estado
inteiro, cada região. Sei das suas diferenças, das
suas vocações e possibilidades. Mas sei também
que ninguém faz nada só. Não iremos governar
de cima para baixo, sob a força da caneta, da coação e do medo. Vou continuar percorrendo Pernambuco, escutando as pessoas e fazendo as escolhas junto com elas. Quem tem habilidade para
escutar mais, certamente irá errar menos.
Desde os tempos em que éramos uma colônia portuguesa, Pernambuco sempre teve um papel de liderança. Mesmo sendo um estado pobre,
Pernambuco se fazia ouvir e respeitar, com voz,
altivez, coragem e atitude. Este protagonismo estava apagado. Perdemos importância e relevância no cenário nacional. Tenham convicção, esse tempo acabou. Essa página está virada. Vamos
trazer de volta a força dos pernambucanos, nos
colocando nos debates nacionais, participando e
discutindo da pauta brasileira. Pernambuco, como sempre foi, vai novamente fazer questão de
ser ouvido. Nossa bandeira e nossas mãos vão estar o tempo inteiro prontas a erguer pontes, mas
sem nunca deixar que sejamos subjugados ou colocados em segundo plano.
Estamos assumindo no dia de hoje, no governo do estado, uma casa que, ao que tudo indica,
está bagunçada e mal cuidada. E nisso o olhar de,
não apenas uma, mas muitas das mulheres que
entram nesse governo comigo, fará toda a diferença. Teremos dificuldades. Mas vamos vencê
-las. Teremos dias ruins. Mas virão outros bons.
Teremos pedras no caminho. Mas nosso caminho
nunca foi fácil. Dessas pedras construiremos as
pontes que nos levarão ao futuro.
Aqui, bem perto das pontes que caracterizam
nossa capital, que unem os dois lados do Capibaribe, reafirmo que vocês terão em mim uma líder que conduzirá o estado construindo pontes,
jamais muros. Pontes com os nossos representantes no legislativo estadual, municipal, na Câmara
dos Deputados e no Senado. Com nossos prefeitos e prefeitas, como um governo amigo das cidades, sempre atento a suas demandas e especificidades. Pontes com o Judiciário, o Ministério
Público e os representantes da Sociedade Civil.
Pontes com o governo federal.
Estarei em Brasília em breve, para apresentar
nossas demandas emergenciais. Farei isso quantas vezes for necessário. Torço para que o presidente Lula, que também toma posse hoje, não
falte ao nosso estado. Se somos conhecidos como
Leão do Norte, coragem temos de sobra para buscar recursos e garantir investimentos.
O Brasil, e boa parte do mundo, vivem um
momento em que a polarização política deixou de
fazer adversários para semear inimigos. As eleições acabaram. Não há mais palanques na praça.
Nosso mandato foi dado pelo povo de Pernambuco e queremos governar para todas as pessoas.
As picuinhas e desavenças não vão nos ajudar em
nada, nem nos levar a canto algum. Aprendi que
um governante precisa estar disposto a conversar com franqueza e serenidade. Pensar diferente de nós é um direito que só a democracia nos
dá e por isso ela é tão delicada. Respeitar a opinião dos contrários e encontrar nas críticas motivos que nos façam refletir, mostram a maturidade
de quem governa. Estou sempre pronta e de coração aberto para as pessoas que quiserem debater Pernambuco, sejam quais forem suas preferências políticas.
Com a mesma sinceridade que me trouxe até
aqui, irei governar Pernambuco. Olhando para as
pessoas, fazendo o agora acontecer e mirando o
futuro. Temos a pressa de quem precisa caminhar veloz, porque o tempo não vai nos esperar.
Temos a fé de nossa gente, a certeza da caminhada e a raça de uma mulher pernambucana. Sem
ódio, sem medo e com o coração tomado de coragem, amor e esperança. Que Deus nos proteja
nessa jornada.