DOEPE 10/12/2015 - Pág. 4 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
4 – Ano XCII • N0 231
Diário Oficial do Estado de Pernambuco – Poder Executivo
Recife, 10 de dezembro de 2015
HORTA FELIZ
Projeto do IPA: agricultura para
incluir jovens com deficiência
Assessoria IPA
Morador do município de Cedro, no Sertão Central de Pernambuco, o jovem Weverton de Cássio
da Cruz, de 20 anos, é portador de transtorno bipolar. Vítima de preconceito, deixou a escola
e ficou em casa, sem fazer nada, segundo relatou. Isso foi há dois anos. De lá para cá, toda
quinta-feira ele se desloca seis quilômetros até o Sítio Barro Branco, onde planta e colhe
diversas variedades de hortaliças, como alface, cebolinha, rúcula e coentro. Uma mudança
de vida, que significou a inclusão de Weverton entre outros jovens da comunidade onde vive.
nova ocupação de Weverton, a
agricultura, faz parte do projeto
Horta Feliz, idealizado por
Manoel Costa, engenheiro agrônomo e
extensionista do Instituto Agronômico de
Pernambuco - IPA. O projeto, que desenvolve hortas para pessoas com deficiência,
é pioneiro no Brasil e tem muito a
comemorar na última quinta-feira, Dia
Internacional da Pessoa com Deficiência.
“Pra mim, é muito importante ter essa
camisa do Horta Feliz e ter pessoas que se
importam comigo. Diz um parágrafo da
Bíblia que cada pastor tem suas ovelhas.
Então, Manoel é o nosso pastor, somos
guiados por ele. O trabalho mudou muita
coisa na minha vida. Em casa, ficava sem
fazer nada, sem planos. O Horta Feliz
ajudou na minha coordenação motora,
porque aqui fazemos muitos exercícios. Em
meu nome e em nome dos meninos, meus
colegas, a gente agradece toda a equipe”,
declarou Weverton, referindo-se aos outros
21 jovens que participam do projeto.
Entre esses jovens, que são alunos da
Escola Estadual Valdicleiwtson da Silva
Menezes, existem pessoas com Síndrome
de Down, deficiência visual, dificuldade
motora e outras deficiências. Todos, sem
exceção, já trabalham na terra. Aprenderam
a diferença das culturas, o tamanho do canteiro, o manejo da colheita, e outros
detalhes para trabalhar em uma horta, neste
caso, orgânica. “Eles nem conheciam detalhes simples, como as cores das plantas. No
processo de alfabetização, eles deram início
ao aprendizado para participar do projeto”,
disse Manoel Costa. Ele acrescentou que
existem jovens que já foram capacitados,
casaram e vivem da agricultura, além de outros que reduziram o uso de medicamentos.
O engenheiro agrônomo afirmou que o
Horta Feliz é uma iniciativa de inclusão social e terapia para valorização desses jovens
com deficiência, que são filhos de agricultores.
Para o trabalho vingar, Manoel conta com
A
F OTO : D IVULÇÃO /IPA
JOVENS portadores de deficiência encontram no Horta Feliz a oportunidade de inclusão social e de melhor convivência
com a própria família. No município de Cedro, o que era projeto hoje já é realidade com apoio de moradores
alguns parceiros, como os donos da propriedade, que cederam o espaço para a horta; os
professores, que acompanham as aulas; o motorista, que conduz os alunos; e os fisioterapeutas, que orientam alguns exercícios.
“A assistência técnica e extensão rural
do IPA atende os agricultores em suas
especificidades. O que nós estamos
provando é que existem metodologias e
estratégias que valorizam as diferenças e
fazem com que as pessoas sejam
produtivas. Nós estamos trabalhando com
quebra de paradigmas. É preciso ter
sensibilidade para perceber as diferenças
e direcionar as atividades de acordo com
as habilidades de cada um. O instituto
fortalece a agricultura familiar e suas
especificidades. A dinâmica
de
aprendizagem é diferente, mas todos
absorvem a informação e se tornam
produtivo”.
Os produtos do Horta Feliz são
comercializados em feiras livres, em
escolas da rede pública inseridas no
Programa de Aquisição de Alimentos do
IPA e no centro social do município. Parte
das hortaliças produzidas ainda é doada à
escola onde os jovens estudam. Além disso,
eles utilizam o lucro das vendas para a compra de insumos e equipamentos. “A gente
está dando uma oportunidade para que os
meninos tenham alguma atividade”,
observou um dos proprietários do Sítio Barro Branco, José Joaquim do Nascimento.
O projeto também é aprovado pelos pais
dos alunos, como é o caso de José Manoel
de Souza. A filha, de 26 anos, Joedna Teresinha de Freitas Souza sofre de deficiência mental e o Horta Feliz ajudou no seu
relacionamento com a família. “Ela era
muito irritada, mas com a roça está bem
contente, mais comunicativa e já conversa
com todos da família. Só posso dizer que
sinto-me muito feliz com este projeto”,
disse, emocionado.