DOEPE 26/09/2020 - Pág. 2 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
2 - Ano XCVII • NÀ 181
Diário Oficial do Estado de Pernambuco - Poder Executivo
Recife, 26 de setembro de 2020
EDUCAÇÃO
Célio, o homem que desbravou o
próprio nome após a maturidade
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Servidor público recebeu incentivo da equipe de
Recursos Humanos da Secretaria de Administração
e voltou à escola para se alfabetizar.
C
élio Gomes da Silva fazia brotar
plantas por onde passava. Tal qual
Tistu, do livro O Menino do Dedo
Verde. Célio era jardineiro do Palácio do
Campo das Princesas, no bairro de Santo
Antônio, área central do Recife. Assim, ele
adentrou o serviço público, há 36 anos. O
tempo passou e Célio se deu conta da necessidade de entender melhor das letras do que
das plantas. Quando criança, teve dificuldades para aprender em uma escola tradicional, igual ao personagem do livro, clássico
de Maurice Druon escrito em 1957. E virou
homem adulto sem saber escrever o próprio
nome. Nessa condição, não se percebia como uma pessoa completa. Um dia, quem floresceu foi o próprio Célio, pelas mãos cuidadosas de outras pessoas.
Célio completou 64 anos. Hoje, integra o
quadro da Gerência de Apoio Jurídico aos
Processos de Pessoal da Secretaria de Administração (SAD) do Governo de Pernambuco. Atua como auxiliar de gestão pública.
Dizem que ele já não é o mesmo homem de
A "#$ do ex-jardineiro, ainda calejadas pelos anos
do ofício com as plantas, agora semeiam palavras
antes, e quem diz, tem razão. Célio aprendeu a escrever o próprio nome aos 58 anos.
Foi depois de conhecer Fernanda Almeida,
gerente de Recursos Humanos na SAD entre os anos de 2013 e 2019. Ganhou incentivo e autoestima.
“Quando eu precisava assinar algum documento, ficava aperreado. Sentia muita
vontade de fazer o nome, de assinar. É como se antes de aprender, eu não existisse”,
raciocina o servidor. A história dele se parece com a de outras crianças brasileiras moradoras do
interior. Filho de pais
muito pobres e de família numerosa – tinha sete irmãos – Célio conta ter recebido
incentivo da família para estudar, mas
o acesso à escola era
difícil por causa da
distância. “Era mais
ou menos uma hora andando para chegar até a sala de aula.
Até fui para a escola,
mas o assunto não entrava na minha cabeça.
Achava difícil”, conta. E assim ele cresceu.
O papel de Fernanda e sua equipe foi fundamental no processo de mudança na vida
de Célio, e de outros nove funcionários da
SAD naquela época. Na atuação junto ao
RH, ela começou a perceber a presença de
pessoas analfabetas ou com dificuldades
para escrever, mesmo tendo frequentado a
escola. Se informou e descobriu o Programa Paulo Freire – Pernambuco Escolarizado, que alfabetiza jovens a partir de 15 anos,
adultos e idosos. O curso dura oito meses.
Fernanda, então, reuniu o grupo e encaminhou os participantes para uma escola pública
em Brasília Teimosa, perto da SAD. Dessa forma, alguns eram liberados para participar das
aulas no horário do expediente. Além disso,
não tinham custo para se deslocar até a unidade de ensino, diminuindo as chances de evasão.
“Célio se destacou durante toda a capacitação,
porque era muito motivado e carismático. No
cargo dele, existe a possibilidade de progredir
no salário com as capacitações. Ele terminou sendo um multiplicador da ideia
junto a outras pessoas”, comentou Fernanda.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, Célio precisou ficar afastado da
SAD. Tem ficado em
casa nos últimos meses, tomando cuidados para não adoecer.
Mas ele também tem
feito planos, e deve
voltar para a escola assim que as aulas forem
retomadas. Será aluno do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Quer continuar
aprendendo, alimentando sonhos e florescendo.
O projeto Servidores que Inspiram revela histórias surpreendentes de pessoas que
compõem o quadro de funcionários do Governo de Pernambuco. Os textos são publicados no Diário Oficial, aos sábados, e também podem ser acessados nas redes sociais
do Governo de Pernambuco a partir das segundas-feiras.