DOEPE 24/10/2020 - Pág. 2 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
2 - Ano XCVII • NÀ 200
Diário Oficial do Estado de Pernambuco - Poder Executivo
Recife, 24 de outubro de 2020
F•••: A•••••! M•••
Sueli e a
comunicação
pelo amor
Ela descobriu a Libras após se
apaixonar por uma pessoa surda.
A relação acabou, mas a paixão
pela língua completou 25 anos.
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rimeiro havia o amor.
E ele pedia reciprocidade. Nos olhares,
nos gestos, na fala. No caso
de Sueli, o amor surgiu diferente do que um dia ela imaginou ser convencional. Ao
parceiro dela, faltava a audição. Só havia um jeito da
relação florescer entre ela,
ouvinte, e seu pretendente, surdo. Sueli precisava
aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Assim
ela fez. O casal permaneceu
apaixonado por dois anos. Já
a paixão de Sueli pela Libras
alcançou os 25 anos.
Sueli Cristina dos Santos tem 45 anos. Desde o início da pandemia do novo co-
ronavírus, sua imagem tem
aparecido nas coletivas promovidas pelo Governo do
Estado no Palácio do Campo
das Princesas. Há três anos,
ela integra o quadro de servidores do Estado. Tem dois
vínculos. É professora intérprete de Libras e instrutora de Libras. Como intérprete, atua em sala de aula no
Educação de Jovens e Adultos (EJA). Como instrutora,
pode ensinar nas escolas públicas a qualquer pessoa que
deseje aprender a língua.
Sueli é formada em letras e,
em 1997, foi a primeira intérprete de Libras contratada pela Prefeitura do Recife.
A história de Sueli com
a Libras começou por um
acaso da vida. Muito pobre,
morava em Altinho, no interior do Estado. Desde os
10 anos, trabalhava como
doméstica e não conseguia
avançar nos estudos. Quando completou 19 anos, foi
convidada por uma família do município para trabalhar e estudar no Recife. Foi
quando se apaixonou pelo
irmão da empregadora. “Na
época, não havia curso e fui
aprendendo na comunidade
surda. O tema do meu TCC,
inclusive, foi a minha história de amor e minha relação
com a comunidade surda.”
Aprender Libras é como aprender qualquer outra
língua, diz a servidora. Exige dedicação. O curso básico tem duração de seis meses. O completo, dois anos.
O Estado oferece o curso
em algumas épocas do ano.
Acontece em escolas públicas. É possível saber da
agenda através do site da Secretaria de Educação. Também há aulas no Centro de
Apoio ao Surdo, em Casa
Amarela.
“A língua faz parte da
cultura de um povo. E como eles não conseguem falar com os ouvintes, ficam
muito unidos entre si. Nós
é que precisamos mergulhar
no mundo deles. Temos que
ter empatia. Respeitar as diferenças”, diz Sueli. Nos últimos anos, o interesse das
pessoas em aprender Libras
tem crescido por conta das
demandas do mercado. Há
eventos que exigem a presença do intérprete.
Respeitar as diferenças
exige conhecimento. Sueli
faz questão de ensinar sobre
isso. “Quando você encontrar com uma pessoa surda e não souber se comunicar com a Libras, você pode
escrever ou falar pausadamente porque pode ser que
o outro consiga fazer leitura labial. Nunca grite. Isso
não irá fazer a pessoa lhe escutar.”
Segundo a Associação de
Surdos de Pernambuco, o
Estado tem 7% de sua população com deficiência auditiva. E cada uma dessas pessoas importa e tem direito de
ser incluída.