DOEPE 11/10/2022 - Pág. 1 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano XCIX • No 195
Poder Executivo
Recife, terça-feira, 11 de outubro de 2022
Dayanna, uma mulher trans com
trajetória marcante na educação
Símbolo de resistência, servidora combate o preconceito no trabalho
de formação de jovens e luta por espaço e reconhecimento nas escolas.
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luta das mulheres é diária e
plural por liberdade, autonomia, reconhecimento e equiparação. Na Rede Estadual, a
política de inclusão da Secretaria de Educação e Esportes (SEE) vale para todas. Ocupando um espaço que sempre lhe foi
negado historicamente, Dayanna Louise é uma
mulher trans, coordenadora da Unidade de Educação para as Relações de Gênero e Sexualidades (Unergs) da Gerência de Educação Inclusiva e Direitos Humanos (GEIDH) da SEE.
Cada mulher enfrenta diferentes desafios de
sobrevivência. E Dayanna também é sinônimo
de resistência. Natural da Zona da Mata Norte
pernambucana, a servidora combate a transfobia no dia a dia, trabalhando com a educação e
lutando sempre pelo espaço e reconhecimento
de corpos trans nas escolas. Em 2008, aos 23
anos, quando fazia a segunda graduação – dessa
vez em Serviço Social, na Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) – ela passou no concurso para professora de História, seu primeiro curso superior, da Rede Estadual. Lotada em uma
escola periférica, cujo nome ela prefere não revelar, a educadora reconheceu sua identidade de
gênero em sala de aula.
“O meu primeiro contato com mulheres trans
foi durante o trabalho de conclusão de curso de
Serviço Social e nas aulas que eu dava nessa unidade de ensino, onde eu tinha uma aluna
trans. Esses dois encontros foram muito importantes para que eu pudesse entender o processo
de reconhecimento da minha identidade”, frisa a
coordenadora. Munida dessas experiências, Dayanna iniciou seus trabalhos voltados para a realidade da escola, situada em um contexto de discentes em vulnerabilidade social. Lá, ela criou o
Observatório Periférico, ainda em 2008, com o
objetivo de lançar discussões sobre os diversos
marcadores sociais, como raça, gênero e classe,
a fim de materializar essas questões para o currículo da instituição.
Vibrando com o retorno positivo do projeto, a educadora decidiu não parar por aí. Ela
conquistou diversas premiações em trabalhos
com temáticas que abordavam as questões de
gênero, sexualidades e educação em escolas
da rede pública, como o Prêmio Naíde Teodósio, em 2009, 2012 e 2016; o terceiro lugar na
Mostra Arqueológica da Unicap, em 2012; o
Prêmio Construindo Igualdade de Gênero, do
CNPq, em 2011; Causos do ECA, em 2009; e
a Mostra de Experiências Exitosas da Rede Estadual, em 2016; além de coordenar um Núcleo de Gênero em uma escola da Rede Estadual, entre 2014 e 2015.
“Eu não vejo nessas premiações um processo de meritocracia da minha parte, um brilhantismo meu. Mas eu reconheço que fui a ponta de
um iceberg maior. Foi fruto de um trabalho coletivo, protagonizado por meninos e meninas da
nossa rede. Foi um esforço coletivo, uma participação de todos os estudantes, uma série de
parcerias. O grande trunfo de tudo isso é que são
projetos que valorizam experiências de corpos
que foram negados no espaço escolar”, afirma.
O vasto currículo de Dayanna, porém, não a
blindou da transfobia. Durante seu processo de
transição, a educadora conta que sofreu resistência por parte de familiares de estudantes e colegas. “Existe a dificuldade de estar viva, de se
manter viva neste país onde a expectativa de vida de uma mulher trans é de 35 anos. E aos 35
anos eu me tornei a primeira mulher trans mestra em educação pela UFPE. Eu hoje ocupo a escola e o serviço público, espaços que sempre foram negados a mim e às minhas irmãs. O espaço
que se vincula aos corpos trans é o da prostituição. Portanto, é um ato de resistência cotidiana
e de bravura se manter viva. Eu e tantas outras
estamos vivas para afirmar que é possível construir outras narrativas aos corpos trans”, observa Dayanna.
Em 2017, ela foi convidada a integrar a equipe da Gerência de Educação Inclusiva e Direitos Humanos da Secretaria de Educação e Esportes, e foi uma das fundadoras da Unidade de
Educação para Relações de Gênero e Sexualidades (Unergs), que atua dentro da gerência promovendo formações sobre a temática, entre outras atividades pedagógicas para educadores e
estudantes da Rede Estadual.
“É importante reconhecer que, hoje, a política voltada para a população trans da Secretaria
de Educação e Esportes é gerida por uma pessoa
que faz parte desse grupo identitário. Nós deixamos de ser usuárias de uma política pública e
passamos a integrar a gestão. É um processo de
reparação histórica. É um lugar que potencializa
a afirmação de que corpos como o meu podem
ocupar um lugar sem exclusão social. E nós não
queremos ser únicas, queremos ser mais uma.
Quando falamos de políticas de gênero, estamos
falando de mulheridades, que também inclui
mulheres trans e travestis”, conclui Dayanna.
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/SEE
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,
Dayanna Louise utiliza
sua própria
experiência de vida no
trabalho com a política
de gênero na Rede
Estadual
CERTIFICADO DIGITALMENTE