DOEPE 21/10/2022 - Pág. 1 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano XCIX • No 202
Poder Executivo
Edvaldo,
o escultor que
descobriu o
talento na sucata
Recife, sexta-feira, 21 de outubro de 2022
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Com dom natural para a arte,
servidor do Detran-PE atribui nova vida
a restos descartados de metal.
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inda criança, Edvaldo Souza
já mexia com ferro e fogo. O
menino costumava esquentar fios de metal no fogão da
mãe para produzir pequenos
objetos, imitando o avô, Severino de Volta,
conhecido ferreiro na cidade de Rio Formoso, Mata Sul de Pernambuco. Com o passar do tempo, já adulto e morando no Recife, Edvaldo soltou a imaginação e começou
a transformar a matéria rústica em objeto de
admiração. Servidor do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE)
há 45 anos, ele faz arte com ferro desde 2002.
Foi quando finalizou sua primeira escultura,
representando um carregador de fretes.
Nada é programado, planejado ou tecnicamente projetado. “Não consigo confeccionar a partir de desenhos ou por encomenda,
só faço o que vem na minha imaginação”,
revela o artista. Nas mãos de Edvaldo, o ferro perde a rigidez passiva das peças mecânicas e pode virar uma bailarina, pescador,
músico, vendedor de frutas ou o que lhe passar pela cabeça. Para ele, o mais complicado é encontrar a expressão do personagem.
Só sossega quando chega ao ponto que deseja. Tudo é produzido nas horas vagas, nos
momentos em que não está atuando como
eletricista na subestação elétrica da sede do
Detran-PE, no bairro da Iputinga, no Recife.
Aquelas horinhas que sobram ele reserva
para dar novos formatos a peças defeituosas,
restos, pedaços de objetos encontrados nas
ruas ou trazidos por colegas. A partir daí, em
sintonia só com sua mente, concentrado, faz
com que a rusticidade do ferro ganhe a leveza da arte. Sem grande infraestrutura, e com
poucas ferramentas, Edvaldo reinventa os
materiais usando apenas máquina de solda,
esmerilhadeira, torno, serra manual, marreta e escova de aço, que possibilitam dar a
forma desejada a cada obra. “Às vezes, pelo
formato da peça, já tenho ideia do que pode
ser trabalhado”, explica.
Edvaldo chegou ao Detran-PE durante a
construção da atual sede do órgão. Participou ativamente das obras para erguer o prédio e, em seguida, passou a atuar na manutenção como ajudante de eletricista. Atento
e curioso, aprendeu tudo da função e, mais
tarde, ocupou o posto de eletricista. No ambiente da oficina, rodeado por equipamentos, peças e ferramentas, muitas obras foram
elaboradas minuciosamente, mas de forma
aleatória, sem o compromisso determinado
da confecção. “Tem horas que não vem inspiração, mas também tem outras que bate
uma sede enorme de produzir”, define.
Em toda sua trajetória já foram produzidas mais de 100 esculturas de tamanhos
variados, sem padronização. A única coisa
em comum é o material: a sucata de ferro,
que desperta o talento de Edvaldo. “Prefiro
o ferro torcido, machucado, sem um formato específico”, revela. Boa parte da sua produção tem porte reduzido, pode ser colocada em mesas ou estantes, mas ele já fabricou
outras bem maiores, como um Cristo com
cerca de um metro e um retirante com 40
cm. A menor delas tem em torno de 13 cm.
Finalizadas, todas ganham uma pintura, que
pode ser em preto fosco, dourado, bronze ou
somente um verniz.
Edvaldo nunca quis expor suas obras, mas
costumava participar de uma feirinha interna
no Detran-PE, antes da pandemia. “Faço por
hobby mesmo, pelo prazer da distração, não
tenho interesse em grandes exposições”, atesta. Apesar disso, aos 64 anos de vida, a mente
não desacelera, tem sempre alguma ideia para
um trabalho futuro. Como a escultura com que
pretende reproduzir a cena que guarda na memória desde 1970: um gol de Pelé. Mais uma
obra merecedora de aplausos, assim como os
gols do eterno camisa 10 da seleção.
CERTIFICADO DIGITALMENTE