DOEPE 26/10/2022 - Pág. 1 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano XCIX • No 205
Poder Executivo
Recife, quarta-feira, 26 de outubro de 2022
F
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Merendeira
e professora,
profissões que
devolveram a
Lucicleide sua
autoestima
A tia da merenda assegurou seu
diploma em Letras superando
incertezas e medos, graças ao amor
pela educação.
L
P
A
R
ucicleide Maria da Silva Floro,
merendeira, professora e mulher. A mais velha entre quatro
irmãs, sempre esteve à frente
da cozinha de casa, junto com
sua mãe, no município de Bonito, no Agreste
de Pernambuco. O interesse pela culinária surgiu ainda muito cedo. Sinônimo de força e determinação, ela deu início ainda muito jovem à
jornada de trabalho. Aos 17 anos, morando em
São Paulo, Lucicleide trabalhou em restaurantes e ajudava na plantação de legumes e verduras da família. Assim, percebeu a importância
de uma boa alimentação na mesa.
Ainda adolescente, trabalhando com a alimentação, já sentia o desejo de cursar gastronomia, embora achasse um sonho difícil de
ser realizado, porque não havia universidade
na cidade onde morava. Aos 23 anos, de volta à cidade pernambucana de Bonito, onde vive atualmente, Lucicleide começou a trabalhar
em restaurantes. O ofício tomava muito o seu
tempo, e restavam poucos momentos para passar com sua filha única.
Lucicleide decidiu trabalhar como merendeira na Escola Padre José Augusto, emprego
que hoje define como um presente de Deus.
“Quando eu entrei na escola não fui só para
a cozinha, fui para a família, e fui muito acolhida. As pessoas sempre me deram oportunidades de crescimento e, a partir dessa oportunidade, tudo começou a mudar na minha
vida”, conta.
Sempre muito feliz por poder entregar o
que sabia fazer de melhor aos jovens, a sua comida, ela também se mantinha sempre mui-
to atenta ao dia a dia escolar. Percebeu que o
ofício de professor era mágico e gratificante,
eram vidas sendo transformadas todos os dias,
tanto pelas mãos dos mestres como pelas dela
e as de toda equipe de merendeiras.
Certo dia, um estudante entregou à tia (como é chamada por eles) o panfleto de uma
faculdade. Ela pegou, embora não mais imaginasse ingressar em um curso. A admiração pelo trabalho dos professores, porém, só
crescia e Lucicleide começou a sonhar em lecionar. Resolveu se arriscar e prestou vestibular. Foi aprovada no curso de Letras, na Faculdade de Formação de Professores da Mata
Sul (Famasul).
“A escola contribuiu muito para que eu tivesse força nessa empreitada. Não é fácil, aos
44 anos, entrar em uma faculdade, mas estar
ali na escola me fez despertar um desejo enor-
me de fazer o curso de Letras, um desejo que
estava adormecido dentro de mim e que me
fez perceber a importância de participar da
educação desses jovens”, afirma.
Lucicleide, enfim, entrou na sala de aula,
como professora de português, na escola em
que trabalhava há tantos anos como merendeira. Ela diz que hoje se sente completa com
suas profissões e conquistas, e ensina: nunca é
tarde para realizar um sonho.
“Me reconhecer como pessoa, como mulher negra de família humilde, que começou
como merendeira em uma escola e poder alçar novos voos é uma conquista. Hoje, sei
que posso ir mais longe, posso me libertar,
ser dona de mim, conquistar espaços, mostrar
o que é ser mulher e dizer que, mesmo humilde, você pode ser vencedora”, finaliza Lucicleide, emocionada.
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