DOEPE 17/12/2015 - Pág. 5 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Recife, 17 de dezembro de 2015
Diário Oficial do Estado de Pernambuco – Poder Executivo
N0 236 • Ano XCII – 5
TRADIÇÃO NA ROÇA
Banco de sementes cultiva
cidadania em Garanhuns
Thais de Paula
“Isto aqui está uma riqueza”. Foi dessa forma que o agricultor Valdir Luiz Severino dos Santos,
de 63 anos, expressou a emoção na inauguração do Banco de Sementes Sítio Cruz, em Garanhuns,
onde mora há 38 anos e sempre cultivou sementes crioulas. A ideia é preservar as sementes nativas,
que são conservadas pelos agricultores há muitas gerações, mas estão em risco de extinção.
eu Valdir lembra que
um primeiro banco já
existiu na comunidade,
há cerca de 40 anos, mas foi
perdido com o tempo. De
acordo com ele, os agricultores estão mais conscientes e
sabem que, ao contrário das
sementes modificadas, as
crioulas quase não levam
agrotóxicos e podem ser replantadas a cada safra.
“Hoje é o resgate também
da vida, da cidadania, da independência, porque a gente
não precisa mais comprar
semente e nem pedir, que é
pior, é feio. É a volta do
associativismo, do coletivo,
do solidário, do que tem coração, amor, alma. O mundo
está pedindo que a gente tome
conta da nossa terra”, disse o
seu Valdir, que herdou a tradição dos avós e dos tios.
A agricultora aposentada
Teresa Vilela é uma das fundadoras da comunidade e ressalta a importância para que
todos estejam engajados para
o sucesso do projeto. “Esta é a
semente da união. Temos que
viver desta forma: trabalhando em mutirão, sem pensar no
dinheiro e começando agora”,
conclamou dona Teresinha,
como é conhecida na comunidade onde vive.
S
PROJETO - O banco de sementes faz parte da tradição
cultural dos produtores, que
plantam, colhem e armazenam para o replantio no ano
seguinte. O diferencial é a
coletividade da ação que,
tradicionalmente, é realizada
na casa de cada agricultor. A
ideia do projeto é facilitar o
acesso do homem do campo a
outras variedades, promovendo a disseminação e multiplicação das sementes crioulas.
O Banco de Sementes Sítio
Cruz está instalado dentro da
Associação Comunitária Nova Vida, que fica na comunidade. Inicialmente, participam 20 famílias de agricultores de base familiar, com
300 quilos de 15 variedades
de sementes crioulas, que
serão replantadas no próximo
inverno, em maio de 2016.
“Hoje é um dia de festa
para a comunidade. Estamos
concluindo a etapa de um
trabalho que começou antes
da primeira roça. Estamos
começando um banco de sementes crioulas adaptadas à
região, ao nosso clima e que
servirá de exemplo para outros lugares. É a vida em
nossas mãos”, afirmou o
extensionista do IPA, Pedro
Balensifer.
Além das sementes já armazenadas nas garrafas pet,
o banco conta com dois
vasos de silo, que comportam 60 quilos de sementes cada um, dois tambores plásticos, duas estantes
para armazenamento das
garrafas e uma balança que
realiza pesagem de até 180
quilos. “Nós estamos construindo sonhos, autonomia,
memória, a identidade de
cada agricultor”, observou a
extensionista do IPA e coordenadora do projeto, Mônica Nunes. A iniciativa da
Secretaria de Agricultura e
Reforma Agrária será executada pelo Instituto Agronômico de Pernambuco IPA, que idealizou o projeto
em 2014.
F OTOS : A DRIANO M ANOEL /D IVULGAÇÃO
AGRICULTORES
do Sítio Cruz
comemoram o
engajamento
de novos
trabalhadores
no banco de
sementes crioulas.
Teresa Vilela
defende trabalho
em mutirão para
aumentar acervo
do banco