DOEPE 20/12/2016 - Pág. 3 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
Recife, 20 de dezembro de 2016
Diário Oficial do Estado de Pernambuco – Poder Executivo
Ano XCIII • N0 235 – 3
CETAS TANGARA
Centro de Triagem de Animais
Silvestres é inaugurado hoje
Ciro Rocha
F OTOS : D IVULGAÇÃO /CPRH
O Centro de Triagem de Animais
Silvestres de Pernambuco - Cetas Tangara
contabiliza números significativos do
importante trabalho que realiza, de
tratamento e readaptação de animais
vítimas de maus-tratos ou do tráfico, antes
de devolvê-los à natureza.
ALÉM DOS NÚMEROS de atendimento que registra a cada
dia, o Cetas coleciona histórias comoventes de amor,
respeito e dedicação para com os animais
mamão, 100kg de pepino e 30kg de carne,
entre outros alimentos, inclusive uma papa
importada. Cada espécie tem seu horário
específico para a alimentação (alguns à noite)
e também o tipo de comida. Para tamanduás,
por exemplo, não pode faltar a tal papa. O
investimento anual com o Centro é de mais de
R$ 1 milhão, entre locação do imóvel, luz,
água, matéria médico hospitalar, medicamentos, alimentos, e pessoal terceirizado.
Cetas Tangara será inaugurado oficialmente hoje (20), às 10h, em evento que também marca o aniversário
de 40 anos da CPRH. Mas já funciona desde
fevereiro deste ano, numa área de 2,6 hectares
do bairro de Guabiraba, nas margens da PE16, onde antes funcionou um criadouro
particular, entre os municípios de Recife e
Camaragibe. Atualmente, abriga cerca de 600
animais no rotativo, entre mamíferos, répteis,
aves e anfíbios. O nome é uma homenagem ao
pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa), pássaro
da Mata Atlântica do Nordeste que se encontra
na lista dos animais em extinção.
O tráfico de animais é um dos maiores do
País, junto com os de drogas, armas e pessoas.
Os animais silvestres são resgatados por
equipes da própria CPRH e outras instituições
(Ibama, Cipoma, brigadas ambientais, ONGs)
ou integram as estatísticas das chamadas
entregas voluntárias, que podem ser feitas lá
mesmo, no Cetas, ou na sede da CPRH, na
Rua Santana, 367, em Casa Forte. Muitos
chegam mutilados, por maus-tratos diversos
O
ou vítimas de atropelamento e, ainda, por se
prenderem a cercas de arames farpados ou fios
de alta tensão. O trabalho é voltado para
recuperá-los, readaptá-los e, enfim, devolvêlos à natureza. Os números são bastante significativos. De março a novembro deste ano, por
exemplo, o Cetas recebeu 5.023 animais. No
mesmo período, as solturas chegaram a 3.435,
entre mamíferos, répteis e aves.
A estrutura do Centro começou a ser
pensada a partir de 2014, quando um acordo de
cooperação técnica passou do Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) para a CPRH a
atribuição de salvaguarda de animais silvestres
em período de recuperação. De 2015 para cá,
o Cetas vem sendo reforçado, com reformas
em sua estrutura física, visando acolher da
melhor forma possível as mais diversas
espécies da fauna. Hoje possui 14 recintos.
A dedicação da equipe de 20 funcionários
com os animais impressiona. Na alimentação
dos animais, o Cetas usa aproximadamente,
por semana, 200kg de bananas, 160kg de
HÓSPEDES - Em setembro, um filhote de onça
parda (suçuarana - Puma concolor) foi
resgatado em uma operação da CPRH em Serrita. Chegou (e ainda é) muito assustado. Devia ter um mês e meio, pesava 4,9kg e teve
descalcificação óssea. O filhote foi chamado
de Juma, pois acharam que era uma fêmea,
mas ao chegar ao Cetas, logo percebeu-se que
era um macho. Virou então Diego e, hoje, com
7,2kg, encontra-se em plena recuperação.
Em outubro, duas aves da espécie colhereiro chegaram ao Cetas por meio de entrega voluntária. Um, muito debilitado, não sobreviveu. O outro está se recuperando bem. O curioso é que eles foram encontrados num navio
espanhol que saiu do Porto de Valência,
momentos após a embarcação chegar ao Porto
de Suape. Estavam como 'clandestinos', ninguém sabia da presença dos mesmos no navio.
Supõe-se que tenham entrado por algum tubo,
atrás de comida, e não conseguiram sair. Detalhe: a ave traz uma anilha (marcador) italiana.
Uma raposa fujona vem sendo tratada há
mais de um ano, antes mesmo do Cetas come-
çar a funcionar no local atual. Vítima de atropelamento, chegou à CPRH com uma fratura e
passou por cirurgia. O pino deslocou e teve
que passar por nova cirurgia. A trajetória da
raposinha tem também uma fuga do veículo
que a transportava (foi resgatada depois de
aparecer na Praça de Casa Forte) e uma ocasião teve que dormir na casa de uma funcionária da unidade de Fauna da Agência. Ainda
terá que passar por nova cirurgia - espera-se
que o osso se calcifique e que, no futuro, a
raposinha fujona ganhe de volta o seu habitat
natural.
Em setembro, uma entrega voluntária feita
na CPRH, em Casa Forte, chamou muito a
atenção. Isso porque, na pequena caixa, levada
em seguida ao Centro de Triagem,
destacavam-se fitas e mais fitas enroladas e
muitos, muitos adesivos, num emaranhado
difícil até de abrir. No final das contas, o bicho
era um enorme sapo cururu que entrou num
quintal de uma moradora do bairro, que
revelou ter verdadeiro pavor do bicho.
A partir de uma apreensão de nada menos
de 832 aves silvestres em Nazaré da Mata,
em novembro, numa ação da Cipoma gerada
por denúncia, uma cena chocou os
tratadores: numa caixa de 45cmX30cm, com
apenas 8cm de profundidade, divididas por
‘baias’ minúsculas, estavam amontoados
nada menos que 88 canários. Muitos,
obviamente, não resistiram.
Estão no Cetas onze tartarugas da
Amazônia, algumas com mais de 30kg, à
espera do repatriamento.