DOEPE 24/12/2021 - Pág. 2 - Poder Executivo - Diário Oficial do Estado de Pernambuco
2 - Ano XCVIII • NÀ 242
Diário Oficial do Estado de Pernambuco - Poder Executivo
Recife, 24 de dezembro de 2021
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Carol Aguiar,
entre a
poesia do
Espaço
Pasárgada e
a arte da
marcenaria
Servidora trabalha
no equipamento cultural
da Fundarpe, que guarda a
memória poética de
Manuel Bandeira,
e é uma apaixonada
pelo manejo da madeira
no seu ateliê.
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Espaço Pasárgada, equipamento cultural onde viveu Manuel Bandeira e que
é gerido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), é um local repleto de poesia, seja nas paredes antigas,
nos jardins e corredores ou na memória afetiva presente na obra do poeta
pernambucano. A arte também se revela nos funcionários que lá trabalham, como
na vida de Carol
Aguiar, assistente administrativa do espaço, que além de
cuidar da casa e colaborar
no desenvolvimento de suas
ações, faz poesia a seu modo. Nesse caso, manejando a madeira na sua
marcenaria artesanal, a Oficina Carol
Aguiar.
O trabalho foi construído a partir
da paixão despertada na infância, seguindo os passos do pai. “O cheiro da
madeira, a cor, os veios. Tudo me encantava e ainda me encanta. A madeira, por ser de origem vegetal, produ-
to direto da natureza, tem uma energia
espetacular. Me acalma e me permite”, conta a artista.
Nascida em Garanhuns, desde
criança Carol via seu pai trabalhando
com madeira. “Ele sempre me pedia
ajuda para que eu segurasse as tábuas
enquanto ele cortava com o serrote. Ele fazia isso muito bem, um excelente carpinteiro, sem ser profissional nisso. Sabia o nome de todas as
madeiras, e eu achava incrível como sabia distinguir uma da outra e dizer para
que servia cada
uma. Ali comecei a perceber
que meus sentidos afloraram”,
detalha Carol,
narrando o início do seu processo artístico
com marcenaria.
Hoje, as peças que cria no atelier
são tábuas de corte e de servir, luminárias, puxadores de porta e suportes. “Trabalhar com madeira é encantador. Cada peça feita por minhas
mãos tem muito carinho e cuidado,
um pouco do meu amor, que imagino compartilhar com todos aqueles
que, de alguma forma, se conectam
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, o contato com a
madeira também é algo poético,
que oferece energia, calma e
inspiração
com meu trabalho”, diz Carol. “Sinto muito orgulho de poder fazer minha arte num universo onde predominam homens, principalmente quando
se surpreendem ou duvidam que foi
feito por mim. E tudo isso me deixa
muito feliz e grata, por tamanha aceitação e reconhecimento do meu trabalho”, acrescenta.
Carol Aguiar é graduada em Licenciatura em Biologia pela Faculdade Fesp. Produtora cultural desde
1990, coordenou o Núcleo de Saúde
da Cultura Popular de Olinda e participa da produção do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) desde 1990.
Inicialmente contratada pela Fundarpe, em 2012, para o Setor de Produção, atualmente é assessora administrativa do Espaço Pasárgada. Como
artista da madeira, participou do projeto Olinda Arte em Toda Parte, expondo nas calçadas seus móveis com
aplicação de cerâmica e pastilhas.
Em 2015, Carol participou da Oficina de Artífices Restauradores em
Mobiliário com Janete Costa, promovida pelo Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), e ganhou um impulso na carreira artística. Lá, teve
uma grande aproximação com o conteúdo sobre a madeira, seu manejo e
técnicas de acabamento e encaixes,
além do privilégio de estar ao lado
do mestre Bispo (in memoriam) e do
mestre Demontiê, com quem até hoje mantém amizade e troca de saberes. Na oficina, aprendeu sobre como
fazer remoção de pintura, aplicação
de nova camada, cortes e encaixes
de madeira, acabamento, polimento,
aplicação de verniz com boneca de tecido e chumaço de estopa, douramento e colagem.
“Tive muito aprendizado e conteúdo que me asseguram no desenvolvimento de minhas peças hoje.
Aplico sempre o acabamento que o
restauro me ensinou, além de pesquisar mais sobre qual madeira utilizar
para cada tábua, pois existem madeiras que não poderiam cumprir esta finalidade. Assim, tenho encontrado
um vasto conteúdo e com uma diver-
sidade incrível. Algo que a madeira
por se só já diz”, revela a artista.
Sobre seu trabalho na Fundarpe,
Carol Aguiar conta que sempre gostou muito de poesia. “Trabalhar no
Espaço Pasárgada, onde tem o Manuel Bandeira como artista preservado e homenageado – de quem sou fã
– me aproximou ainda mais. Colaborar para que a memória e a poesia de
Bandeira estejam presentes, e na sua
cidade, é desafiador a cada dia. Como ele mesmo disse: ‘ali, tudo parecia impregnado de eternidade’. Faço minha parte para que realmente
isso aconteça”, comenta. Quem tiver interesse em conhecer e adquirir as peças que a artesã produz pode acessar seu perfil no Instagram
@oficinacarolaguiar.